quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A infernalidade do paraíso. Parte I

Já lá vão os tempos em que a minha consciência se deparava com a possível problemática de acções “puras”, tidas como “pecaminosas”, contribuírem para uma assombração da imortalidade de uma essência, alma, ou qualquer outro conceito que possa ser usado para definir aquilo que faz de nós seres detentores da capacidade de sentir aquilo que se sente e difundir aquilo que verdadeiramente sentimos.

O facto de todas as acções serem o reflexo de uma serie de processos bioeléctricos gerados no córtex cerebral como resposta aos diversos estímulos externos já não é por si puro? Pergunto-me o que será mais puro, a processamento de uma acção ou a conotação que lhe é atribuída como forma de determinação do seu grau de pureza?

Conotar alguma coisa implica um raciocínio, raciocínio esse que esta dependente da prévia exposição a um vasto conjunto de estímulos, esses estímulos podem desencadear uma infinidade de reacções demasiadamente próprias ou tendencionalmente comuns com outros seres da mesma espécie.

Para além de alojarmos a nossa essência num mundo que pertence única e exclusivamente a nós próprios, passamos a maioria do tempo no mundo da sociedade, fazendo sentido a atribuição de conotações a actos cometidos no seio do mundo social de forma a criar uma homeostase social. Caso contrário ainda hoje estaríamos na selva e o instinto ainda não teria evoluído para a racionalidade que nos diferencia de todas as outras formas de vida até então conhecidas.

Mas isso toda e qualquer pessoa o sabe, quanto mais não seja sente-o.

Aquilo que verdadeiramente me intriga, ou pelo menos intrigava é o como uma incerteza criada por estímulos simples e acessíveis a todos parte para algo tão magnificiente, acabando por ser dotada de uma pureza que transcende a sua própria essência, julgando-se por isso capaz de atribuir conotações a outras incertezas e até mesmo certezas da mesmas espécie.

Sim falo de um paraíso infernal que peca pela universalidade que lhe tende a ser atribuída.

Vejo esta universalidade como uma tentativa de corrupção e de moldamento daquilo que mais puro temos, a capacidade de construção do nosso património existencial.

Será este o custo do paraíso? Um desafio à nossa natureza existencial …

2 comentários:

  1. Oh rapaz, felicito-te pela tua abertura sobre questões existenciais ao mundo, mas o facto de estares aqui a partlihar com os outros não é por si próprio um absurdo? Ou estarás a tentar fazer parte de um projecto, que, embora provisório, julgas poder tornar-se intemporal? Não estaremos aqui a perder tempo irrecuperável das nossas vidas? Como a minha razão própria me diz, "tempus fugit" meu caro, a vida é demasiado curta para nos interrogarmos constantemente sobre os desígnios dados à nossa razão. O absurdo da existência é também o que a torna tão preciosa. XD Have a nice day

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  2. Só consigo subentender a partilha como um absurdo, aos olhos dos egoístas.

    Esse projecto a que faz alusão não é meu, é de todo e qualquer ser dotado da capacidade de raciocínio, e já teve inicio à muito, muito tempo, não comigo mas sim com a origem do pensamento.

    Será que estaremos a perder tempo? A perda de tempo é algo muito subjectivo… para mim perder tempo é por exemplo ver as tardes da Júlia, já algumas pessoas “perdem-se” no tempo assistindo ao programa. Ok, é uma comparação desajustada, mas julgo encaixar-se perfeitamente na sua retórica.

    O tempo foge sim, mas não se esqueça que o conceito de tempo não se aplica ao pensamento e muito menos ao inteligível.

    A minha razão diz, “Nosce te ipsum”. Levando-me a pelo menos tentar diminuir a absurdez da minha existência.

    Cumprimentos.

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