segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A infernalidade do paraíso. Parte II

A ideia de juízo final, é capaz de provocar uma serie de reacções distintas na maioria dos crentes. Uns ficam receosos, pondo em causa todos os passos dados na construção de si próprios, outros aguardam esperançosos o benefício de uma vida de obediência e disciplina perante os tão aclamado deveres morais. Ambos entregam o destino das suas almas à justiça divina…

Esta justiça tem o objectivo de filtrar as almas, aglomerando-as em duas categorias: as puras e as putrefactas (há também aquelas neutras, mas isso seria outro assunto).

A minha birra com o conceito e ideia de justiça divina começa precisamente neste ponto.

Entre si, os conceitos justiça e divina apresentam serias dificuldades de socialização e comunicação. Digamos que é uma espécie de mistura de azeite com água…

Passo a explicar, divino pressupõem algo que transcende a dimensão da existência, como tal, qualquer relação que se sirva deste termo para adjectivar um qualquer outro conceito terreno, reduz a sua grandiosidade ao alcance dos sentidos humanos. Perdendo-se desta forma a proclamada graça divina.

Este é apenas um dos pontos que me intriga, partamos então para outro.

O conceito justiça, requer por sua vez o cumprimento de um determinado código, que assente sobre um conjunto de regras… Como se pode então submeter uma alma à justiça? Será que faz sentido julga-la mediante regras que foram ou poderiam ter sido cumpridas pelo seu habitáculo (corpo)? O corpo e a alma não ocupam dimensões diferentes? Como se chega ao inteligível através de um “veículo” (códigos, condutas, regras….) terreno? Não será esse inteligível a utopia da moralidade humana?

Será que estou demasiadamente apegado às palavras e isso não me deixa sentir aquilo que elas tentam transmitir? Estarei a ser demasiado lógico com algo inteligível?

A única forma que encontro de dar alguma credibilidade a estes conceitos/ideologias só pode ser feita dessa forma, porque sempre que me desprendo deles, e invisto numa tentativa de diálogo com a verdade absoluta, ela insiste em não dar qualquer tipo de feedback, criando esse vazio um sentimento de paz e sossego muito mais puro que o sentimento subjacente nos já referidos conceitos.

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