sábado, 27 de fevereiro de 2010

As 10 idiossincrasias da Lei de Deus – Parte III – “A escala de Deus”

Devo confessar que já começo a ficar cansado de escrever sobre estas pseudo leis, não por falta de ideias, mas antes por essas ideias afunilarem incondicionalmente no mesmo sentido, o sentido da incoerência de Deus.

Questiono-me inclusive até que ponto não estou a ser contaminado por tal incoerência. Por muito que a critique tenho sempre de admitir o seu conhecimento prévio, podendo só depois contrasta-la com o conhecimento inato da existência e da razão que prevalece em cada um de nós.

Receio que neste processo de admitir algo inadmissível para uma posterior refutação, as estruturas lógicas do pensamento possam sair lesadas. O meu único alento é que enquanto a lógica da razão e existência diminuírem a lógica de Deus a escalas nanométricas serei sempre detentor de uma lógica palpável aos olhos deste Deus minúsculo.

Esta terceira parte teria como objectivo abordar o mandamento “não pecar contra a castidade”, mas quando comecei a escrever sobre ele senti-me ridicularizado por me debruçar sob algo tão enfatizante, ridículo e unnatural. Por isso e para terminar vou deixar só o significado de castidade do ponto de vista cristão, a partir dai tirem as vossas próprias ilações.

Castidade:

“Do ponto de vista da moral do cristianismo nas suas distintas denominações, a castidade é a virtude que governa e modera o desejo do prazer sexual, segundo os princípios da fé e da razão, recebendo também a denominação de Santa Pureza.

Pela castidade a pessoa adquire o domínio da sua sexualidade, para ser capaz de integrá-la numa personalidade compatível com os pontos de vista religiosos. Para o cristianismo não é uma negação da sexualidade mas sim o fruto do Espírito Santo e consiste no domínio de si mesmo, e na capacidade de orientar o instinto sexual para as causas morais ligadas ao crescimento espiritual e corporal das pessoas.

Para o cristianismo a castidade é uma virtude necessária nos distintos estados situacionais da vida quer sejam casados ou solteiros.”

Hilariante não?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

As 10 idiossincrasias da Lei de Deus - Parte II

Não invocar o seu Santo Nome em vão.

No primeiro grande mandamento pede-nos para o amar e adorar sobre todas as coisas, mas logo de seguida é nos pedido para não o chatear muito, só mesmo quando for estritamente necessário, é uma pessoa muito ocupada e não pode perder tempo com as futilidades que advêm da sua própria criação.

Será que este mandamento se refere somente aquelas expressões do tipo: “Deus queira que amanhã venha sol”, “Jesus” (pronunciado pelo dealer das redondezas após dar a primeira passa no seu charuto), “Foda-se… que mal fiz eu a deus”…

Se assim for 75% da população (no mínimo) não cumpre com este mandamento. Quais serão as repercussões disto um dia mais tarde?

Se rezarem um terço nenhuma. Acabam na mesma por invocar o seu santo nome em vão, mas com um simples acto de submissão tudo fica resolvido, ele até se esquece das 273 vezes que fazem alusão ao seu nome durante o terço.

Quem se pode dar ao luxo de definir quando e como é que o seu nome pode e deve ser invocado e fazer disso uma lei? Eu julgo que ninguém, mas deus lá sabe…

Mais uma vez acaba por cometer um erro por ele próprio condenado, a luxúria.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

As 10 idiossincrasias da Lei de Deus -- Parte I


Estava hoje perdido nos meus devaneios… quando me tentei situar dei por mim sentado num banco de madeira, ao meu lado e à minha frente estavam mais uns 12/15 miúdos, também eles sentados, à excepção de 2 que se agachavam atrás da primeira fileira de bancos à espera da oportunidade ideal para azucrinar os colegas da frente, a restante plateia parecia hipnotizada, completamente ofuscada pelo discurso da senhora que se encontrava em cima do primeiro largo degrau que inicia o caminho para o Altar.

A senhora acima referida a julgar pela sua aparência deveria de andar na casa dos 40 e muitos anos, subentenda-se esse “e muitos” como qualquer idade compreendida entre os 46-49 anos. Os seus sapatos eram simples, mais pareciam umas sabrinas com sola de borracha e de cor preta, vestia uma saia bege que permitia a visualização de 5 – 9 cm da perna acima do nível do tornozelo, e uma camisa da mesma cor com as mangas dobradas até ao cotovelo, o seu cabelo estava tapado por um lenço preto que se estendia pelas costas terminando uns escassos centímetros abaixo dos ombros. Era conhecida como a irmã Conceição.

- A lição de hoje será sobre os 10 mandamentos da lei de “D”eus. - Dizia a irmã num tom de voz firme e não muito amistoso. Se havia dúvidas quanto à sua amistosidade essa seria rapidamente dissipada segundos após esbufetear um dos dois miúdos que se encontravam na galhofa.

- Os 10 mandamentos da lei de Deus são 10:
1º Amar a Deus e adora-lo sobre todas as coisas
2º Não invocar o seu Santo Nome em vão
3º Santificar domingos e festas de guarda
4º Honrar pai e mãe e outros discípulos superiores
5º Não matar
6º Não pecar contra a castidade
7º Não roubar
8º Não levantar falso testemunho, nem de qualquer outro modo faltar à verdade ou difamar o próximo
9º Não desejar a mulher do próximo
10º Não cobiçar as coisas alheias

No preciso momento em que acabo de recordar este cenário outros pensamentos se ocuparam de mim, relegando para segundo, quiçá terceiro plano essa situação, dando lugar a uma multiplicidade de questões, dais quais saliento duas: As Leis de Deus? Que raio estava eu a fazer naquele banco?

Para a 2º questão facilmente obtive resposta… era domingo de manhã, tinha os meus 9 anitos, nessa altura autonomia social e discernimento intelectual são conceitos que estão em fase embrionária, como tal até que estes amadureçam e façam parte da nossa estrutura intrínseca há que seguir os caminhos traçados por quem já é dotado de tal características.

Para a primeira a coisa ficou mais difícil. A única resposta que me ocorre de momento é: Deixei-as ficar em algum sitio e não sei bem onde.
Esta pergunta é tão descabida quanto as Leis de “D”eus, não merecendo nada mais que uma resposta de igual natureza. Ao lerem o tema “Justiça Divina” facilmente entenderão o porque de tal afirmação.

Passemos agora à análise de algumas das Leis de “D”eus para perceber o que o nosso bondoso e amado criador exige de cada um de nós.

Amar a “D”eus e adora-lo sobre todas as coisas
Como qualquer pessoa tida como normal do ponto de vista afectivo e emocional possuo sentimentos de amor, amo os meus pais, irmãos, namorada, amigos e por ai fora… Mas isso não chega…O nosso amigo “D”eus ofuscado pela enorme necessidade de ser amado acaba por cometer um pecado capital por ele próprio condenado, a “soberba”.

Soberba na medida em que demonstra uma elevada pretensão de superioridade sob qualquer ser, superioridade essa alicerçada na utópica criação da humanidade por ele levada a cabo. Será que o seu criador também lhe exigiu o mesmo? Porventura também estará sujeito às leis do seu próprio “D”eus… Sim, segundo a lógica da batata, todo o criador é precedido de outro criador e assim sucessivamente, acabando o próprio “D”eus por ser um discípulo das doutrinas/leis do seu “Pai dos Céus”. Resta-nos saber se fiel…

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A infernalidade do paraíso. Parte II

A ideia de juízo final, é capaz de provocar uma serie de reacções distintas na maioria dos crentes. Uns ficam receosos, pondo em causa todos os passos dados na construção de si próprios, outros aguardam esperançosos o benefício de uma vida de obediência e disciplina perante os tão aclamado deveres morais. Ambos entregam o destino das suas almas à justiça divina…

Esta justiça tem o objectivo de filtrar as almas, aglomerando-as em duas categorias: as puras e as putrefactas (há também aquelas neutras, mas isso seria outro assunto).

A minha birra com o conceito e ideia de justiça divina começa precisamente neste ponto.

Entre si, os conceitos justiça e divina apresentam serias dificuldades de socialização e comunicação. Digamos que é uma espécie de mistura de azeite com água…

Passo a explicar, divino pressupõem algo que transcende a dimensão da existência, como tal, qualquer relação que se sirva deste termo para adjectivar um qualquer outro conceito terreno, reduz a sua grandiosidade ao alcance dos sentidos humanos. Perdendo-se desta forma a proclamada graça divina.

Este é apenas um dos pontos que me intriga, partamos então para outro.

O conceito justiça, requer por sua vez o cumprimento de um determinado código, que assente sobre um conjunto de regras… Como se pode então submeter uma alma à justiça? Será que faz sentido julga-la mediante regras que foram ou poderiam ter sido cumpridas pelo seu habitáculo (corpo)? O corpo e a alma não ocupam dimensões diferentes? Como se chega ao inteligível através de um “veículo” (códigos, condutas, regras….) terreno? Não será esse inteligível a utopia da moralidade humana?

Será que estou demasiadamente apegado às palavras e isso não me deixa sentir aquilo que elas tentam transmitir? Estarei a ser demasiado lógico com algo inteligível?

A única forma que encontro de dar alguma credibilidade a estes conceitos/ideologias só pode ser feita dessa forma, porque sempre que me desprendo deles, e invisto numa tentativa de diálogo com a verdade absoluta, ela insiste em não dar qualquer tipo de feedback, criando esse vazio um sentimento de paz e sossego muito mais puro que o sentimento subjacente nos já referidos conceitos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A infernalidade do paraíso. Parte I

Já lá vão os tempos em que a minha consciência se deparava com a possível problemática de acções “puras”, tidas como “pecaminosas”, contribuírem para uma assombração da imortalidade de uma essência, alma, ou qualquer outro conceito que possa ser usado para definir aquilo que faz de nós seres detentores da capacidade de sentir aquilo que se sente e difundir aquilo que verdadeiramente sentimos.

O facto de todas as acções serem o reflexo de uma serie de processos bioeléctricos gerados no córtex cerebral como resposta aos diversos estímulos externos já não é por si puro? Pergunto-me o que será mais puro, a processamento de uma acção ou a conotação que lhe é atribuída como forma de determinação do seu grau de pureza?

Conotar alguma coisa implica um raciocínio, raciocínio esse que esta dependente da prévia exposição a um vasto conjunto de estímulos, esses estímulos podem desencadear uma infinidade de reacções demasiadamente próprias ou tendencionalmente comuns com outros seres da mesma espécie.

Para além de alojarmos a nossa essência num mundo que pertence única e exclusivamente a nós próprios, passamos a maioria do tempo no mundo da sociedade, fazendo sentido a atribuição de conotações a actos cometidos no seio do mundo social de forma a criar uma homeostase social. Caso contrário ainda hoje estaríamos na selva e o instinto ainda não teria evoluído para a racionalidade que nos diferencia de todas as outras formas de vida até então conhecidas.

Mas isso toda e qualquer pessoa o sabe, quanto mais não seja sente-o.

Aquilo que verdadeiramente me intriga, ou pelo menos intrigava é o como uma incerteza criada por estímulos simples e acessíveis a todos parte para algo tão magnificiente, acabando por ser dotada de uma pureza que transcende a sua própria essência, julgando-se por isso capaz de atribuir conotações a outras incertezas e até mesmo certezas da mesmas espécie.

Sim falo de um paraíso infernal que peca pela universalidade que lhe tende a ser atribuída.

Vejo esta universalidade como uma tentativa de corrupção e de moldamento daquilo que mais puro temos, a capacidade de construção do nosso património existencial.

Será este o custo do paraíso? Um desafio à nossa natureza existencial …